O BARROCAL

310 MILHÕES DE ANOS EM CONSTRUÇÃO

Com uma paisagem granítica característica feita de rochas geradas nas profundezas da Terra, mas moldadas e expostas por centenas de milhões de anos de movimentos tectónicos e períodos climáticos, o Barrocal é um oásis refrescante de História Natural. A Chave do Barrocal transporta o visitante para uma natureza com tempo para ser desfrutada.

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O Barrocal ergue-se, sem pressas, destacado e à margem, por entre os alvos bairros da cidade de Castelo Branco. Nascido há 310 milhões de anos, nas profundezas da Terra de quase 30 quilómetros e a 750ºC de temperatura, só poderia resultar numa paisagem muito especial. O que faz do Barrocal especial é constituir um pedaço natural da cidade, que com esta evoluiu, para a qual contribuiu e que hoje, mais do que nunca, faz parte. Falar de Castelo Branco, desta cidade e suas origens vestidas de granito é, necessariamente, falar do seu Barrocal. A história da paisagem do Barrocal conta-se por milhões de anos, cada uma das suas formas graníticas esculpidas por cada gota de água que se infiltra na rocha, de modo providencial ao longo da densa rede de fraturas, transmitem-nos um capítulo das estórias que não vivemos. No entanto, são estes episódios passados que moldaram uma convivência que sabemos agora ter existido por mais de 3000 anos. O Barrocal faz parte e é exemplo da riqueza natural e cultural do território UNESCO em que se integra. Por essa razão, é ponto de partida privilegiado para a sua compreensão e descoberta.

O Parque do Barrocal é um património que pertence a Castelo Branco. Mas, no sentido mais lato, pertence a todos nós. A todos os de hoje, e a todos os que virão depois. Por isso, vamos respeitá-lo e acarinhá-lo, deixando a natureza continuar o seu caminho regenerativo, que todos queremos e podemos agora acompanhar de perto.

Excerto de Barão, T., Neto de Carvalho, C., “Barrocal, uma Paisagem Natural no Coração de Castelo Branco”, Monografia do Parque do Barrocal (2020)

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A ORIGEM DO BARROCAL

O Maciço Granítico de Castelo Branco (MGCB) é constituído por cinco diferentes fácies graníticas (conjunto de rochas com determinadas características litológicas que as distingue das demais), dispostas concentricamente, com uma idade de 310 + 1 Ma (tardi-tectónicos relativamente à terceira fase de deformação varisca), aflorando numa área de 390 km2. O granito do Barrocal (GBR) é um granito de duas micas, com quantidades idênticas de biotite e moscovite, e de grão médio a grosseiro. O processo de cristalização fracionada deste granito decorreu muito lentamente, ao longo de cerca de 4 milhões de anos. O MGCB está associado à instalação de uma gigantesca massa magmática há cerca de 310 + 1 Ma e localizada originalmente a uma profundidade estimada de 30 km e com uma temperatura de cristalização iniciada aos 750˚C. O granito terá resultado da fusão em profundidade de materiais constituintes da crosta terrestre durante a formação de uma cadeia de montanhas por constituição do supercontinente Pangeia (Orogenia Varisca).

Excerto de Antunes, M., “As origens do Barrocal”, Monografia do Parque do Barrocal (2020)

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As Formas de uma Paisagem de Pedra

O Barrocal de Castelo Branco é uma representativa paisagem granítica de aspecto ruiniforme, composta por blocos com até 22 metros de dimensão maior. Barrocal é a expressão popular atribuída a um terreno repleto de barrocas ou penedias. Na sua definição científica dada pela Geomorfologia, a disciplina das Ciências da Terra que se dedica ao estudo da dinâmica das formas da paisagem, o Barrocal constitui um Domo encimado por blocos graníticos residuais, resultando da evolução erosiva de um maciço granítico. O Barrocal, conhecido com este nome pelas gentes da terra há longos séculos, é assim um exemplo clássico deste modelado granítico. A colina em forma de domo do Barrocal tem uma disposição Noroeste-Sudeste, com um comprimento máximo de 1200 metros e uma largura máxima de 730 metros, erguendo-se 30-35 metros acima do plano da cidade. O Barrocal, exposto há quase 50 milhões de anos, evoluiu como forma de relevo nos últimos 4-5 milhões de anos. A evolução das formas graníticas do Barrocal se dá muito lentamente e se desenvolve, sobretudo, ao nível dos solos e abaixo, tendo de haver erosão para que possam ser expostas à superfície.

A degradação climática associada às glaciações do Quaternário, conjuntamente com o levantamento tectónico que se faz sentir na região pelo movimento vertical da Falha do Ponsul-Gata, possibilitou o encaixe da rede de drenagem da Ribeira da Pipa, levando à erosão, à modelação e exposição das diferentes geoformas graníticas que constituem o Barrocal. O Barrocal de Castelo é um dos 33 Sítios de Importância Geológica actualmente identificados no concelho de Castelo Branco, no âmbito do Geopark Naturtejo Mundial da UNESCO, devido à complexidade da evolução geomorfológica que demonstra.

Excerto de Neto de Carvalho, C., “As formas de uma Paisagem de Pedra”, Monografia do Parque do Barrocal (2020)

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NAS PROFUNDEZAS DA TERRA

O Granito do Barrocal pertence ao maciço granítico de Castelo Branco, com uma área de 390 km2, rodeado por rochas metamórficas mais antigas, popularmente conhecidas como xistos.

Possui na sua constituição, também, cristais de apatite, zircão, ilmenite, andaluzite, cordierite e silimanite. A sua origem está associada à instalação de uma gigantesca massa magmática localizada a uma profundidade estimada de 30km e com uma temperatura de cristalização iniciada aos 750˚C, datada de há cerca de 310 + 1 Ma. Este granito terá resultado da fusão em profundidade de materiais constituintes da crusta terrestre durante a formação de uma cadeia de montanhas por constituição do supercontinente Pangeia (Orogenia Varisca).

AS FORMAS GRANITÍCAS DO BARROCAL

Na dança constante das placas tectónicas, o Granito do Barrocal acabou por ser trazido à superfície da Terra, não sem antes ser limado e retocado pela erosão, gota a gota, das águas subterrâneas. Das diversas geoformas graníticas peliculares ao domo do Barrocal destacam-se as bolas, blocos pedunculados, blocos fendidos, blocos penitentes, formas em chama, lajeado, pias, caneluras e um pequeno tor. Realce ainda para os inúmeros encraves de rochas encaixantes e evidências de fluxo magmático, de quando a rocha era ainda um rio de magma em movimento telúrico a dezenas de quilómetros de profundidade.

A BIODIVERSIDADE DO BARROCAL

NATUREZA SELVAGEM NO CENTRO DA CIDADE

Nas áreas abertas forma-se uma complexa associação arbustiva, destacando-se a Giesta-branca (Cytisus multiflorus) e o Codesso (Adernocarpos lainzii), dois endemismos ibéricos.

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A FLORA

No Parque do Barrocal, distinguem-se dois domínios florísticos bem demarcados, o continental, representado pelo Carvalho-negral (Quercus pyrenaica), e o mediterrânico, com o Sobreiro (Quercus suber) e a Azinheira (Quercus rotundifolia). No sub-bosque, encontram-se espécies aromáticas e melíferas como o Rosmaninho (Lavandula pedunculata) e a Xara (Cistus ladanifer), plantas com bagas comestíveis como o Pilriteiro (Crataegus monogyna) e a Silva (Rubus ulmifolius). Destacam-se diversas plantas medicinais e condimentares, entre as quais o Hipericão (Hypericum perforatum) e o Mentrasto ou Hortelã-brava (Mentha suaveolens).  As giestas, como a Giesta-branca (Cytisus multiflorus) e a Giesta-amarela ou Maias (Cytisus striatus), enchem a primavera de cor. Encontramos também aqui alguns endemismos ibéricos, como o Codesso (Adernocarpus lainzii).

O Parque do Barrocal presenteia quem percorre o circuito pedestre criado para a contemplação da natureza com uma significativa diversidade botânica, na qual se incluem diversos endemismos ibéricos. Conseguimos distinguir pelo menos quatro tipos de habitats onde observamos as espécies associadas ao substrato de origem granítica:
Floresta mista de carvalho; Matos mediterrânicos; Charco de água doce com nascente e charco mediterrânico temporário; Prados naturais.

Excerto de Pinto, S., “As plantas do Parque”, Monografia do Parque do Barrocal (2020)

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AS AVES QUE CRUZAM POR AQUI O CÉU

Conspícuos durante a Primavera, as aves fazem ouvir os seus cantos nupciais e inúmeras espécies utilizam o Barrocal para nidificar. Ao longo do ano, outras espécies passam por aqui durante a migração outonal, como o Papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca), ou invernam aqui, como a Petinha-dos-prados (Anthus pratensis), o Tordo-pinto (Turdus philomelos) e o Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula).

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A FAUNA

O dia começa a despontar no Parque do Barrocal. Ainda antes dos primeiros raios de sol, já as aves noturnas como o Noitibó-de-nuca-vermelha, a Coruja-do-mato ou o Mocho-galego recolheram aos seus abrigos diurnos. Os mamíferos (carnívoros, herbívoros e insectívoros) como o Texugo, a Raposa, o Coelho-bravo, o Ouriço-cacheiro e os morcegos, bem como as respetivas presas, agora sem a protecção da escuridão da noite, descansam igualmente nos seus refúgios. Da mesma forma, a Salamandra-comum, que aproveitou a humidade da noite para se alimentar ou procurar uma fêmea, abriga-se agora debaixo de uma pedra ou de um tronco apodrecido, ou escondida num muro de pedra, salvaguardando a sua pele sensível do ar seco do dia.

Dão então lugar aos adoradores do Sol, que começam a despertar para um novo dia e para a azáfama da vida que agita a paisagem. O ar enche-se dos cantos e encantos do Melro-preto, da Toutinegra-de-barrete-preto, do Serino, da Cotovia-de-poupa ou do Verdilhão, como que a desejar os bons-dias. É também a hora de as borboletas diurnas, como a Acobreada, a Verdinha-comum, a Borboleta-carnaval ou a Maravilha, agora bastante ativas, procurarem o delicioso néctar ou então uma parceira para darem origem a uma nova geração e promoverem a perpetuação da espécie. Aves de rapina como a Águia-de-asa-redonda, a Águia-calçada e a Águia-cobreira sobrevoam o Parque, procurando roedores ou répteis mais incautos. E Cegonhas-brancas cruzam os céus do Barrocal, nas repetidas viagens entre os seus ninhos urbanos e os campos onde se alimentam.

É a natureza viva do Parque do Barrocal que nos encanta e deslumbra.

Excerto de Romão, F., “Os Bichos do Parque em 24h”, Monografia do Parque do Barrocal (2020)

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O HOMEM NA PAISAGEM

No panorama da arqueologia albicastrense, o Barrocal é um lugar paradigmático no âmbito da Pré-história Recente com inequívocos vestígios arqueológicos que remontam pelo menos aos finais do II / inícios do I milénio a.C. Isto significa, portanto, que há 3000 anos, durante o Bronze Final, entre o séc. XIII/XII a.C. e finais do séc. XI/inícios do séc. VIII a.C., o Barrocal teve uma ocupação humana indissociável do local em si e com grande expressão na paisagem envolvente.

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Contrariamente a uma tipologia prevalecente de povoados de altura, o Barrocal apresenta uma forma de ocupação do espaço rara nesta mesma rede de povoamento, que faz dele um lugar peculiar. A implantação na encosta suave de uma pequena colina remete para a tipologia dos povoados abertos, que têm sido apelidados de “casais agrícolas” e são mais frequentes no Vale do Tejo. A investigação, que se encontra numa fase bastante preliminar, corrobora com base no registo arqueológico, a existência de uma ocupação multifuncional do espaço onde coexistiram em simultâneo um povoado aberto e um santuário rupestre ao ar livre em perfeita simbiose. Trata-se, por isso, de um caso singular e, até ao momento, sem paralelos neste território.

Excerto de Mendes, C., Caninas, J., Henriques, F., Robles Henriques, F., Carvalho, E., “O Homem na Paisagem”, Monografia do Parque do Barrocal (2020)

Barrocal as Memórias e os Sentires

O espaço designado hoje por Barrocal constitui o último reduto, uma derradeira parcela que perdurou do caos de blocos que outrora se estendia em redor da cidade. É de presumir que no passado distintas designações identificariam os vários amontoados rochosos ou os afloramentos que topograficamente sobressaíam e se impunham ao olhar. O tempo que tudo dilui, no seu fluir, dissipou memórias locativas. Mas, na actual matriz predial rústica de Castelo Branco, perduraram e constam alguns desses topónimos como Barroca dos Castelhanos, Barroca das Formigas, Barroca das Vespas, Barrocal ou Barrocal à Pipa, demonstrando, mais uma vez, que a toponímia é uma «verdadeira epigrafia do solo».

Os arredores não se afastavam muito da descrição devida ao Barão von Wiederhold quando, em 1798, tinha este apontarado: «A cidade é muito rochosa. Apesar de haver tantas rochas, os campos estão tanto quanto possível cultivados, em parte o solo é arenoso». Em finais do século XIX a almejada chegada, a estas latitudes do interior da Beira, do caminho-de-ferro seccionou o vasto Barrocal localizado a nascente e o mais afastado das vetustas muralhas da cidade, dividindo-o em duas partes, intensificando-se um sentido de área remota do espaço.

Ao longo da sua história, o Barrocal conjugou realidades e experiências objetivas e subjetivas do quotidiano cíclico da comunidade, assumindo-se como um território de expressão dos desejos, das ilusões e das frustrações, materializando uma paisagem espelho dos amores e dos receios urbanos. E essa interação entre o natural e os ritmos da vida humana iluminaram todos os Genius Loci pessoais que o Barrocal une.

Excerto de Neto Salvado, A., Salvado, P., “Barrocal as Memórias e os Sentires”, Monografia do Parque do Barrocal (2020)

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O BARROCAL NA HISTÓRIA DE CASTELO BRANCO

O Barrocal faz parte da cidade. Alguns dos principais e mais antigos monumentos históricos de Castelo Branco foram construídos com o Granito do Barrocal. Mas foi a partir da construção da estação ferroviária e da zona industrial adjacente, nos finais do séc. XIX, que numerosas pedreiras foram aqui abertas para providenciar a matéria-prima para a sua construção. Nas cicatrizes deixadas, nas charcas e por entre grandes bolos graníticos, o Barrocal é memória das brincadeiras e aventuras de sucessivas gerações.

PRESENÇA ANTIGA DO HOMEM NA PAISAGEM

A ocupação humana no Barrocal remonta a finais do II.º /inícios do I.º milénio a.C. O diversificado espólio arqueológico exumado (cerâmica manual, machados, moinhos, etc.) e a presença de um Santuário Rupestre ao ar livre indiciam a prática de atividades profanas e sagradas num espaço eventualmente de habitat e com lugares de culto.

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